RESENHA – Dragões de Éter – Caçadores de Bruxas, de Raphael Draccon (2010)


A literatura é palco de muita coisa. Da alegria a tristeza, do riso ao choro. Desde personagens interessantes a reflexões sobre nossas vidas. A realidade é retratada, de uma forma ou de outra. E quando se trata de um romance fantástico? A resposta já é conhecida por muitos: a fantasia explica a realidade, tanto quanto a realidade explica a fantasia.

Usando de elementos fantásticos, diversos autores conseguiram criticar o mundo real de forma mais competente do que muitos romances mainstrem (que tratam de ficção do cotidiano). Embora seja um gênero marginalizado há anos, atualmente a fantasia vem crescendo em ritmo acelerado. E nada melhor do que um bom exemplo nacional para se resenhar.

No mundo encantado de Nova Éter, o reino de Arzallum vive um agraciado momento de paz, que está chegando ao fim. Estranhos acontecimentos macabros envolvendo bruxaria podem indicar o retorno de um mal caçado há anos pelo rei: as bruxas. Envolvendo contos de fada sombrios, espadas e magia, a história se desenrola entre batalhas épicas, romances e revelações.

Com uma prosa sincera, Raphael Draccon, o autor, nos brinda com uma narrativa muito bem colocada. Intitulando-se um bardo conhecedor de histórias, o narrador repassa-nos os fatos decorridos, ao mesmo tempo em que, vez ou outra, dá sua própria opinião.  Por vezes alternando de cenário ou de personagem rapidamente, consegue criar um bom dinamismo para o roteiro, que se apresenta claro, dinâmico e diferenciado (na maior parte das histórias fantásticas, o narrador é uma terceira pessoa que não dá opinião ou participa da trama). Extremamente lírico, o bardo parece-nos um poeta contando uma aventura de amor e sangue.

A obra nos apresenta personagens marcantes, porém nem sempre ambíguos; quando se faz um herói muito perfeitinho ou um vilão simplesmente mal, perde-se o interesse. O rei, o pirata vil e o marujo ladino são exemplos de personagens interessantíssimos, que geram interesse. João e Maria, unilaterais, não brilham tanto às vistas do leitor.

Com uma trama envolvente e acontecimentos sucessivos a cada capítulo, a narrativa cai pouco no clichê ou na monotonia (o início do livro é morno, mas logo engrena). Há poucas incongruências e/ou estranhezas e sobram-se críticas a nós mesmos e reflexões sobre nosso próprio mundo – quando se fala de injustiça e preconceito, por exemplo.

Com três atos recheados de aventura, amor e fantasia, Dragões de Éter surge como uma consagração da fantasia brasileira, tanto ou mais do que fez Eduardo Spohr com seu A Batalha do Apocalipse. Embora Spohr tenha conseguido maior visualização, Draccon apresenta-se com maior valor literário, reutilizando a fantasia clássica numa narrativa criativa de lirismo raro hoje em dia.

Recomendado para todos os fãs de literatura do gênero e apaixonados aí por fora, a magia desse livro vai permanecer por muito tempo no coração de seus leitores.
LIVRO NOTA….8,7

Raphael Draccon, o autor.

Biografia do autor e mais informações da Trilogia Dragões de Éter no blog de Draccon:

http://www.raphaeldraccon.com/blog/?page_id=2

Publicado em domingo,3 julho,2011, em Literatura, Resenhas Literárias e marcado como , , , , . Adicione o link aos favoritos. 1 comentário.

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